La Fiorentina - 15/01/02016 |
Meus 36 anos
Quando eu penso em fazer aniversário, a primeira coisa que me vêm à cabeça é planejar um programa que caiba dentro da minha estrutura e agrade aos meus amigo e a mim. Às vezes, eu estou frustrado demais com a vida, ansioso por mais do que tenho, e aí o choque entre o que eu gostaria que a festa fosse e o que ela realmente se tornará me parece tão distante que uma imensa vontade de desistir surge. Outras vezes, esse encontro é mais natural e os acontecimentos evoluem mais fluidamente. Nesse janeiro de 2016, quando eu comemorei 36 anos, aconteceu justamente isso. Eu me sentia pequeno e organizei momentos modestos. E, graças aos meus amigos, os tive. Encontrei com amigos no La Fiorentina e lá houve quem comesse e bebesse às fartas e houve quem só tomou um chopp, os dois lados participando do modo como quis e pode do encontro que festejava a minha vida. Gente de teatro, amigos de longa data, amigos de amigos: o Rio é uma cidade que festeja! De lá, viemos para a minha casa e tudo continuou aqui apesar de uma chuva torrencial que molhava o verão da cidade: íntimo, pequeno, feliz. Como é bom estar entre os seus!
No sábado, o plano de ir à festa “Viemos do Egyto”, que é um bloco de carnaval, me animou, mas principalmente a possibilidade de rever um novo amigo e dele ganhar uma carona até o longínquo centro da cidade onde aconteceria o evento. No fim, houve um problema com a festa e ela foi cancelada. Acabamos por ir a The Week, que não tem nada a ver nem comigo, nem com ele. A experiência foi boa se pensarmos em uma visita de campo a um lugar famoso, mas desconhecido por mim até então. A festa em si foi como nós chamamos no nosso tempo de “um erro”, mas acabamos com ela comendo pizza em Copacabana. Eu vi o nascer do sol na praia antes de entrar em casa e isso foi lindo!
Na segunda, houve a festa de entrega do premiação do Troféu Cesgranrio, no Hotel Copacabana Palace. A classe teatral inteira estava lá e é claro que eu brincava com todo mundo, dizendo que a festa era a do meu aniversário. Como nos anos anteriores, comemos e bebemos à vontade e exibimos nossa alegria em roupas bonitas, traços maquiados e cabelos feitos. Ganhadores e perdedores guardaram um pouco suas diferenças e afogaram suas decepções por um tempo nas doses de bebidas. A vida em sociedade passa por isso: controle de sentimentos. Estar nessa festa, e eu estive nela pela terceira vez, é um tipo de símbolo para mim - que vim do Rosa Maria, que tenho família pobre, mas desde sempre me esforço para um dia morrer com algo mais que me mostre que avancei. A festa no Copa e os amigos com quem falam lá são marcas de que, ainda trilhando o caminho, tenho feito o percurso certo.
A última comemoração do meu aniversário foi, na verdade, a primeira a ser marcada. Cheguei a cogitar a ideia de não fazê-la, mas mudar planos quase nunca é melhor opção. Resignei-me e fui feliz de novo. Dancei entre amigos, recebi abraços e ouvi desejos de felicidade. O coração chegou largo em casa, a alma feliz embora o corpo cansado e ansios por um momento de intimidade.
Quando eu penso na minha infância, eu não consigo pensar na pobreza, talvez, porque pobre eu ainda seja. Daquele momento para cá, o mais marcante na formação do meu caráter seja o valor dado ao pouco em exata e plena relação com aquele também dado ao muito. Querer muito não significa desprezar o pouco até porque o muito rapidamente se torna pouco quando a linha que os divide é cruzada. Tudo isso para dizer que eu tenho poucos amigos, poucas necessidades, poucas referências. Confio nelas, elas confiam em mim. Meus amigos são a base que me faz enxergar o tamanho do pântano cujo fundo eu não nem sempre sinto. Por me conhecerem, guardam em si um backup de mim que é essencial quando eu preciso fazer alguma atualização. De longe e de perto, eu sinto os seus olhares perscrutadores, animadores, felizes. Feliz aniversário é, sim, consultar a disponibilidade de uma nova atualização do sistema. É bom ter o meu passado bem guardado com eles.
Já tive vários aniversários felizes, mas esse talvez tenha sido o maior de todos. Se eu soubesse que fazer 36 anos seria tão bom, eu já teria nascido com essa idade. Rumo aos 72.
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