sexta-feira, 29 de junho de 2007

Quando a música pára nas nossas vidas

Eu tinha 11 anos quando participei do meu primeiro concerto de piano. Eu estava de terno de gravata e ia tocar "A Valsa dos Soldadinhos", de Aymoré Brasil. Quatro páginas de partitura, um rádio gravando meus toques no piano e uma platéia de pais e familiares meus e dos outros alunos do Conservatório Musical Dom Feliciano. Minhas mãos tremiam só de pensar nos olhares da professora ao ouvir, em sua confortável casa, dias depois, a minha apresentação registrada ali naquela fita.
Toquei. Os aplausos vieram. Meus pais ficaram orgulhosos e, semanas depois, fiquei sabendo que minha nota tinha sido 8,5: um resultado nem tão baixo, nem tão alto. Eu era mesmo um pianista nem tão baixo, nem tão alto.
Naquela tarde do concerto, alguém tirou 10,0. Um menino que fora o último a tocar. O último porque era a estrela do Conservatório: Marcelo Schreiber. O Marcelo era quatro anos mais novo que eu - ele tinha 7! - e quatro anos a mais que eu no estudo do instrumento - ele tocava piano há quatro, enquanto eu estava terminando meu primeiro. E tocou uma composição cujo nome ou melodia eu já não me lembro, mas que tinha bem mais páginas que a minha. E recebeu bem mais aplausos que eu.
Os anos se passaram. Eu estudei até quase os meus 14 anos e, aos 16, minha mãe vendeu o piano e eu nunca mais precisei tocar nenhuma página de partitura nenhuma. O Marcelo seguiu estudando e arrancando aplausos nos pequenos e grandes concertos de que participava. Entrou na Ufrgs, se formou em Música e, quando eu tinha 25, fui assistí-lo no seu concerto de graduação. O Marcelo estava acompanhado de cantores líricos e a noite inteira fora unicamente dele. Horas de música da melhor qualidade, páginas e mais páginas de partituras cujas notas ele nem olhava mais. O resultado fora a Distinção.
Hoje encontrei o Marcelo quando estava saindo do trem. Estávamos no mesmo vagão, mas não nos vimos antes. O Marcelo não toca mais piano.
Casado, substituiu as teclas brancas e pretas e as partituras que não necessitavam mais seu olhar pelo serviço público na Prefeitura de Esteio, como auxiliar de escritório. Vendeu o piano e esqueceu o diploma, os aplausos e o rádio que gravava a apresentação para nos dar a nota semanas depois. O Marcelo recebe uma nota mais ou menos, nem tão alta, nem tão baixa, todo final de mês. Uma nota certa, garantida e necessária.

Hoje, ao encontrar o Marcelo, eu descobri que a adolescência acaba quando a música pára nas nossas vidas.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Minha nova manta

Essa semana comecei a tricotar minha nova manta. Talvez, por isso me lembrei de "Moça Tecelã", de Marina Colassanti. A história da moça que tece o mundo dos seus sonhos e, quando se assusta com eles, tamanha a cobrança que eles a interpõem, ela os destece, ponto após ponto.
Construir sonhos e descontruí-los logo ali adiante é o que tenho feito ultimamente. Sempre, como a moça tecelã, atrás de algo que envolva os meus dedos, o meu corpo. Um sonho que me consuma, que me faça lembrar de que estou vivo, que ocupe meu corpo apenas com meus próprios e únicos egoísmos.
Eu acho que estou em fase de tecer agora porque já desteci algumas velhas mantas do passado. E, na vontade de que o inverno dure bastante, fico sentindo o calor da lã enquanto teço castelos, palácios e aviões. Talvez, um dia, terei que destecer tudo novamente, mas aí vai depender de como o frio vai se comportar e de como os sonhos vão se tornar realidade.

"Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. "

sábado, 16 de junho de 2007

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Tudo corre bem
quando a gente consegue aquecer-se
com o próprio calor.
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sábado, 9 de junho de 2007

Tudo vale pouco e o pouco vale tudo. Viu?

Esquecer é mais difícil.
Parar é mais difícil.
Ser é mais difícil.
Cozinhar é mais fácil.

Chorar é mais difícil.
Se entregar é mais difícil.
Dizer é mais difícil.
Rezar é mais fácil.

Realizar sonhos é mais difícil.
Viver é mais difícil.
Crescer é mais difícil.
Aumentar é mais fácil.

Dever haver algum problema comigo porque quero sempre o mais difícil.
E não quero cozinhar ninguém.
E não quero esperar que minhas preces sejam atendidas.
E não quero aumentar nada porque já tenho bastante.

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Festa de Babette (Babette's Feast, Gabriel Axel, Dinamarca, 1987)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

You can take to hide your shame from all those prying eyes

Lazy Line Painter Jane




Domingo, voltando da Redenção, eu vi, pendurado em uma árvore da Rua São Manuel, algumas fotos de uma menina brincando no jardim. Alguém fez uma armação com arame e pendurou várias delas lá. Não sei porquê, não sei quem foi, nem conheço a menina. Mas encheu a minha alma...

Acho que a vida pode ser uma crônica, quando não pode ser um poema.

E como eu queria alguém que lesse os meus poemas, visse as minhas fotos penduradas, soltasse balões de gás hélio com imagens ao céu.

"Belle & Sebastian" foi algo que eu descobri há pouco. Desde então, não passo um só dia sem assistir a um clipe no youtube e encher a minha árvore de coisas simples, belas e fortes.


"You will have a boy tonight.
You will have a girl tonight]
On the first bus out of town
On the last bus out of town
And you you hope that they will see."

segunda-feira, 4 de junho de 2007

What can I do - The Corrs

Não paro de ouvir isso...







I haven't slept at all in days
It's been so long since we have talked
And I have been here many times
I just don't know what i'm doing wrong

What can I do to make you love me
What can I do to make you care
What can I say to make you feel this
What can I do to get you there

There's only so much I can take
And i just got to let it go
And who knows I might feel better
If I don't try and I don't hope

No more waiting, no more aching,
No more fighting, no more trying...

Maybe there's nothing more to say
And in a funny way I'm calm
Because the power is not mine
I'm just gonna let it fly

Love me...

sábado, 2 de junho de 2007

Há tempos em que as flores brancas são verdes.
em que os sóis não esquetam.
em que tudo o que você diz não diz nada para ninguém.

Há tempos em que os ponteiros não andam.
em que os dias não passam.
em que os passares se estacionam.

Há tempos em que nada há
a não ser as rosas que se tivessem outro nome
seriam outras flores.

sexta-feira, 1 de junho de 2007


A
L
E
G
R
I
A
D
O
R
M
E